De uma pequena empresa familiar, que vendia por café verde, porta a porta, na década de 50, no município de São Miguel, no Alto Oeste do Rio Grande do Norte, à maior empresa de café do Brasil. A história do Grupo 3corações, passa pela história do Café Nossa Senhora de Fátima, que depois se tornou Café Santa Clara. E, por trás dela, está a trajetória de sucesso de três empreendedores potiguares: Pedro, Paulo e Vicente. Eles fizeram da pequena empresa que herdaram do pai, João Alves de Lima, um império do café no país, que detém hoje várias marcas e exporta para 30 países.
Pedro Alcântara Rego Lima é o presidente do grupo, que no ano passado faturou R$ 2, 4 bilhões e espera chegar este ano a R$ 2,8 bilhões. Em entrevista à Tribuna do Norte, o empresário que é um dos palestrantes do Fórum Empresarial do RN, no próximo dia 26 de maio, fala sobre os números do Grupo, sobre as estratégias que fizeram a empresa crescer e sobre sucessão. O Fórum é realizado pela K&M Seminários, em parceria com a TRIBUNA DO NORTE.
De uma pequena empresa no interior do Rio Grande do Norte, para a empresa número 1 de café do Brasil. O que foi definitivo para a construção dessa trajetória?
O que foi definitivo foi que a gente aprendeu logo cedo a respeitar o consumidor e a criar laços duradouros com eles. Temos uma comunicação séria com o consumidor, que apoiou a gente e vem apoiando. Por isso, a gente vem crescendo cada vez mais no consumo do café nos lares dos brasileiros.
A empresa teve um salto significativo com a concretização da joint venture entre a empresa da sua família, a São Miguel Holding, na época chamada de Santa Clara, e a israelense Strauss, o que deu origem ao grupo 3corações. Naquela época, qual era o posicionamento da Santa Clara no mercado? E o que mudou de lá para cá?
A gente (Santa Clara) era líder no Norte e Nordeste e já era a segunda marca no Rio de Janeiro, mas precisava de uma marca forte para trabalhar o Brasil todo e surgiu com a Strauss, que é nossa sócia, e que tinha a marca 3corações. Nós juntamos as duas empresas e criamos uma companhia que virou líder no negócio de café do Brasil.
Quais os números da empresa: faturamento, empregos, produção e quais os mercados em que atua?
No ano passado, nós faturamos R$ 2,4 bilhões, somos mais de 4.500 colaboradores, e vendemos de café, no ano passado, 136 mil toneladas no Brasil todo. Estamos presentes em mais de 300 mil pontos de venda no Brasil todo. E atendemos mais de 70 mil clientes a cada 15 dias. Nós atuamos no mercado de café, capuccino, café com leite, instantâneos, solúveis e agora lançamos a máquina Trés.
Desde a época da Santa Clara, a empresa fazia um bom trabalho de marketing, inclusive, tinha Fagner como garoto propaganda. É verdade que ele começou fazendo propaganda de graça para a empresa porque era muito seu amigo?
A gente se conhece desde 1967. Eu considero e Fagner diz que somos irmãos. Nós temos uma relação de muito respeito e uma história longa juntos antes dele ser famoso. Ele fez muita coisa para o Café Santa Clara e quando a gente cresceu, não era justo ficar usando Fagner para propaganda porque ele ajudou tanto antes. Nós nunca pagamos nada a Fagner, hoje nós temos uma gratidão muito grande e, por isso, nós ajudamos a cuidar da Fundação dele em Fortaleza. Há mais de 15 anos, a gente é parceiro nessa Fundação. Ele tem uma obra social muito interessante aqui no Ceará, em Fortaleza e em Orós.
Quais marcas fazem parte hoje do grupo 3corações?
De café , nós temos Café Santa Clara, 3corações, Café Letícia, em Minas Gerais, Kimimo, mas tem várias outras ainda menores, por Minas Gerais e Rio de Janeiro. Tem o Frisco que é do grupo também, que tem fábrica em Mossoró. E tem os derivados de milho, como o Flocão Dona Clara.
Além do marketing, que outras estratégias o grupo trabalhou e trabalha para continuar crescendo?
A gente tem uma plataforma comercial e logística muito forte, que têm sido um dos pilares do nosso crescimento. Toda a venda e distribuição de nosso produto é feita por uma estrutura própria. Isso dá mais agilidade, mais velocidade nas ações.
Qual foi a receita da 3 Corações no ano passado e qual a projeção para este ano?
A projeção é chegar a R$ 2,7 a R$ 2,8 bilhões, se Deus quiser.
Recentemente o grupo fez um novo joint venture, desta vez, com a empresa italiana Caffita, para o lançamento das cápsulas de café e também das máquinas residenciais. De quanto foi o investimento para entrar neste novo mercado? E qual tem sido o resultado?
Com a Caffita, da Itália, nós temos um compromisso de fazer uma fábrica aqui (Brasil) o próximo ano. Estamos discutindo ainda onde vai ser. Em marketing e tudo, o investimento foi de quase R$ 100 milhões. O retorno é uma solução de médio e longo prazo. É um retorno importante para a marca, para o negócio. Nós que somos do setor de café, de bebidas e maquinais, não podemos ficar fora desse mercado.
Como foi a aceitação?
Boa. Uma maravilha. Nós estamos tendo uma resposta extraordinária do consumidor. Fizemos uma campanha muito boa com o chef Alex Atala e a mãe dele para o Dia das Mães. Nós vendemos, só nesse período, mais de 30 mil máquinas.
O grupo 3c orações também se consolidou como exportador. Quais os números atuais da exportação, quantos países, qual o volume de sacas e quais as grandes empresas consumidoras?
Nós exportamos café verde, café dos armazéns, das unidades de beneficiamento de grão da gente de Minas Gerais e da Bahia. Nós exportamos, de 800 mil a 1 milhão de sacas por ano para em torno de 30 países. Tem muita gente grande consumidoras.
Quanto a empresa vai investir este ano? Em que vai investir?
Esse ano esperamos investir em nossa verba de comunicação e marketing em torno de R$ 100 milhões, incluindo o projeto das cápsulas. Os outros investimentos eu preferia não dizer.
Quais os próximos projetos para 2014 e 2015? Há algum outro segmento novo no gatilho?
Nós temos a fábrica de cápsulas para 2015. Mas estamos vendo outras oportunidades. A nossa ideia é crescer no nosso segmento.
A 3 corações foi eleita várias vezes pela Revista Época como uma das 100 Melhores Empresas Para Trabalhar. A que se deve isso? Que tipo de diferencial, a empresa oferece a seus funcionários?
É ter o cuidado com o colaborador, hoje o mercado está muito competitivo, com plataforma de benefícios e remuneração variáveis, isso gera uma atratividade, um relacionamento da empresa com o colaborador e do colaborador com a empresa. Nós temos um cuidado muito grande com as pessoas que trabalham com a gente.
Desde 2004, o grupo aderiu ao “8 Jeitos de Mudar o Mundo”, pacto assinado pelos países membros da ONU – Organização das Nações Unidas, que estabeleceu as metas compartilhadas para o desenvolvimento humano sustentável em todo o mundo. Pelo programa, os oito objetivos deveriam ser atingidos até 2015. Como tem sido a participação do grupo nesse pacto?
Nós colocamos os objetivos do pacto nas embalagens e participamos de algumas ações de relacionamento com as comunidades, algumas prefeituras e a própria Fundação Raimundo Fagner. A gente tem um trabalho bem feito quanto a isso.
O senhor será um dos palestrantes do Fórum Empresarial do RN. Como será sua participação?
Eu não sou palestrante. Eu sou um empreendedor. Eu vou porque eu acho interessante compartilhar nossa experiência. E também para tentar estimular os empreendedores do nosso estado. Eu gosto muito do nosso estado. E a gente mostrando um pouco da nossa luta, as pessoas também se animam a continuar seus negócios, suas atividades.
Em sua opinião, quais as principais características que um empresário deve ter para construir uma carreira de sucesso? E qual a principal lição você tem a dar?
Eu entendo que a pessoa deve ter muito foco no seu objetivo. Se você tem uma atividade, se você acredita naquela atividade, naquele negócio, você tem que focar nela, tem que se comunicar direito no consumidor, porque toda atividade você tem que vender e para vender você tem um consumidor para comprar do outro lado. Tem que focar na melhor forma de se comunicar com o consumidor para que ele escolha o seu produto e não o do concorrente. E trabalhar muito porque sem trabalho ninguém faz nada não.
A principal lição é essa? Tem que trabalhar muito?
Trabalhar é normal. Tem gente que pensa porque criou um negócio não precisa trabalhar. E isso é para a vida toda, você vai lutando e até construir a sucessão tem que cuidar do negócio e trabalhar.
Como é o seu expediente?
Eu acordo cedo, eu gosto de correr, acordo umas 4h, onde eu tiver faço um exercício, ou vou para uma academia. Às 7h30 estou chegando no local de trabalho, em qualquer unidade nossa pelo Brasil. Eu fico em Fortaleza, um dia ou dois por semana. O resto é viajando para São Paulo, Rio, Belo Horizonte, lutando. Geralmente almoço nas fábricas, pois todas as nossas unidades tem restaurante, e saio umas 19h para o hotel.
Que futuro você vê para o grupo, que hoje conta com os 3 irmãos na administração? Continuará gerido pelas próximas gerações?
Estamos tentando construir essa coisa na cabeça dos meninos. Eu tenho 3 filhos. A mais velha vai fazer 27 anos. E tem uma formação boa, estudou na Fundação Getúlio Vargas, achou que poderia avançar e foi para Orrington, nos Estados Unidos e se formou em uma das melhores universidades, e trabalhou 2 anos no UBS, um banco suíço, lá nos Estados Unidos. Eu estou organizando para ela vir ajudar a gente. Além dela, tenho mais dois, uma menina e um rapaz. Nós estamos tentando construir a sucessão, temos uma empresa especializada em família para nos ajudar a criar esse vínculo. Não é que tem que vir para empresa, mas tem que saber o que quer da vida. Se não for a empresa, vão cuidar da vida deles.