quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Regiões do Rio têm em dez horas o total de chuva esperado para o mês


Em alguns pontos do Rio choveu em dez horas o equivalente ao previsto para todo o mês de dezembro. Segundo o sistema Alerta Rio, em pelo menos três estações da zona norte da cidade foram registrados altos índices de chuvas entre à 0h e as 10h desta quarta-feira (11).

No bairro da Piedade (zona norte) choveu 148 milímetros no período, volume que supera os 142,6 milímetros de chuva registrados em todo o mês de dezembro em 2012. Em Madureira, choveu 143,7 milímetros, contra os 148,2 milímetros previstos para o último mês do ano. Em Irajá, foram 150,3 milímetros de chuva em dez horas, contra 164 milímetros em todo o mês de dezembro do ano passado.

Já em Nova Iguaçu, município da Baixada Fluminense que foi o mais afetado, choveu 110,80 milímetros de 0h15 às 10h desta quarta-feira, de acordo com o Inea (Instituto Estadual do Ambiente). Pelo menos 2.000 pessoas ficaram desalojadas no município.

A combinação de uma área de instabilidade formada por temperaturas e índices de umidade altos que já estava instalada no Estado com uma frente fria que chegou do Sul do país na terça-feira à tarde foi o motivo para as chuvas fortes.

Apesar de a chuva ter diminuído em intensidade a partir do final da manhã, as ruas permaneciam alagadas em diversos pontos da cidade, o que provocou problemas em vários bairros. 

De acordo com geógrafo da PUC-Rio Marcelo Motta, o Rio tem uma geografia muito particular, com maciços montanhosos com encostas íngremes associadas a baixadas alagadas repletas de brejos e lagoas.

O Rio, disse, sofre um problema histórico de ocupação de áreas no fundo de vales, ao pé de maciços e no entorno de lagoas. À medida que se constrói nesses locais, explica, retira-se a capacidade do solo de absorver a água que desce das encostas. Construções e ruas formam uma espécie de manta impermeável que impede que a água penetre no solo e siga para as nascentes dos rios.

"Se você quer construir nesses espaços, é preciso entender essa dinâmica. Quem está sofrendo mais com as chuvas são as baixadas alagadas. Nova Iguaçu, que fica perto do maciço do Mendanha e Serra do Mar, é um exemplo".

Para Motta, intervenções desse tipo ocorrem desde o início do século vinte. Exemplos atuais são a praça da Bandeira e a lagoa Rodrigo de Freitas, dois bairros já tradicionalmente conhecidos pelas enchentes. Ambos eram áreas cercadas por morros que foram aterradas no século passado. A lagoa teve parte de seu espelho d'água aterrado para dar lugar a mais uma pista para carros e a praça da Bandeira era um braço de mar que avançava na cidade.

Na avaliação do geógrafo, o problema é que, aparentemente, os governos atuais parecem não ter aprendido com erros do passado. Um exemplo de que o Rio continua incentivando a moradia em áreas com probabilidade de alagamentos, segundo Motta, é a recente expansão imobiliária da Barra da Tijuca, região conhecida pelas lagoas e brejos.

"O problema é que se reproduz esse modelo até hoje. Na Barra da Tijuca, para onde se expande a cidade, se assiste o mesmo aterramento dos brejos e dos sistemas lagunares. Barra será a praça da Bandeira de 2020. A chave é o planejamento urbano", disse.

A Prefeitura do Rio está construindo piscinões na praça da Bandeira com o objetivo de escoar a água durante as enchentes. Motta diz que os piscinões resolvem em parte, mas o ideal seria retomar a capacidade de drenagem natural do solo, construindo parques com vegetação próximo às encostas do bairro.

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